2008.05.18 Portugal
João Ruela, produtor de leite, é um dos muitos agricultores da Murtosa que encaram o futuro com pessimismo. “Oitenta explorações agrícolas do concelho da Murtosa encerraram nos últimos três anos porque não conseguiram fazer face às despesas de produção. E por este andar, todas as explorações do concelho vão fechar as portas”.
A afirmação foi proferida por João Lopes, presidente da Cooperativa Agrícola do Bunheiro – Murtosa (CABM), que tem 2100 associados. A cooperativa está preocupada com o futuro das 241 explorações activas do concelho. “Nos últimos seis meses, os factores de produção têm vindo a aumentar entre 30 e 50%, como é o caso das rações, adubos, sementes e gasóleo, de tal ordem que o aumento das receitas derivadas da subida do preço do leite, no último trimestre de 2007, já está quase absorvido”, lamentou João Lopes.
Ou seja, com os aumentos de produção verificados desde 2007 e a provável descida do leite, “vai ser insustentável continuar a trabalhar, porque os factores de produção têm tendência a aumentar e o leite a diminuir”, sublinhou. A CABM considera que o Ministério da Agricultura devia “impor regras aos industriais para que não tenham o poder de subir e descer o leite quando bem entendem, pois esta descida do leite vai-nos impedir de trabalhar”.
Licenciamentos
Para além disso, todas as explorações agrícolas são obrigadas, até Dezembro de 2008, a proceder ao licenciamento, outro factor desfavorável, visto que 85 por cento do concelho da Murtosa está referenciado como Reserva Ecológica Natural (REN) ou Reserva Agrícola Nacional (RAN). “O Ministério do Ambiente está a complicar o licenciamento no concelho, pois não o reconhece como sendo agrícola, apesar de termos sete mil animais, 241 explorações activas e produzirmos 22 milhões de litros de leite, por ano”, realça João Lope.
O presidente da CABM lembra que “70 por cento do movimento económico da Murtosa provém da agricultura e pesca, estando em causa 1000 postos de trabalho directos”. Com dificuldades no licenciamento, os investimentos dos agricultores não vão ser “contemplados no novo Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), não vão poder produzir leite a partir de 2009, ou seja, vão acabar connosco”, frisou João Lopes.
Em conclusão, “a descida do preço do leite coincide com uma altura em que as despesas dos agricultores quase triplicam, os prejuízos já se começam a fazer sentir, e assim sendo não há condições para trabalhar”, rematou João Lopes. A CABM enviou uma carta ao Ministério da Agricultura, há 15 dias e sem resposta, onde expôs todos os seus problemas.
FONTE: Jornal de Noticias, via anilact
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